domingo, 23 de agosto de 2009

Cultura - uma reflexão ou merda assim



Toda a gente se queixa muito que os portugueses têm pouca cultura. è verdade. Eu diria que a maioria da população do mundo é culturalmente pouco favorecida. Obviamente que estou a falar de cultura no sentido musical, cinematográfico, literário, e não enquanto algo que une as pessoas em torno daquilo que as identifica enquanto seres. Pois bem adiante.

As pessoas queixam-se muito, mas normalmente são os mesmos que acham que a cultura não deve chegar a todos para "preservar" as obras, para não as banalizar. No fundo para não terem o zé da esquina a gostar do mesmo que elas. Queixam-se que ele não distingue um dali dum rembrandt, mas se calhar também não queriam que isso acontecesse. Práfrente.

è verdade que me faz impressão haver gente que acha os transformers um grande filme e o mulholland drive uma seca do caraças. Que a celine dion é a melhor do mundo, e os neurosis uma merda. Que o metal é só berros e o hardcore é somente pornografia. Mas assim é o mundo e assim vai continuar a ser. Porquê? Porque a maioria das pessoas não tem dinheiro para pensar o contrário. E sobretudo não tem tempo nem disponibilidade. Trabalha 8,9,10 horas, chega a casa cansado(a) de um trabalho onde recebe mal. Tem paciência para ir ao cinema ver lynch ou goddard? Como? Vai ver o titanic porque ouviu falar bem nas revistas da moda e na televisão e é um pau.


E parece que toda a gente da cultura se esquece disso. Que as pessoas trabalham.

E não se vê nenhum esforço em levar a montanha a maomé. Em meter cultura em centros comerciais por exemplo(aqui realço o centro cultural na malaposta em odivelas que teve algumas encenações no odivelas parque), em falar com associações recreativas para fazer exposições, peças de teatro, concertos, declamações de poesia, sessões de cinema, em fazer protocolos até com supermercados para bilhetes mais baratos para qualquer coisa(tipo 20 euros em compras, 1 bilhete para o filme x no cineteatro da terra) entre tanta coisa que se pode fazer. Basta ter ideias.



E porque não se costuma fazer nada disto? Eu respondo. Porque somos egoístas. E porque não nos preocupamos.

Somos egoístas porque queremos ter tudo próximo de nós. Queremos ficar satisfeitos por conseguirmos apreciar aquela peça de música clássica, aquele concerto de sludge, aquele filme de um realizador underground da berra, aquela exposição de arte. e não me lixem, que fazemos todos isto. Queremos ver pouca gente nos sítios onde vamos. Porque temos medo da massificação, que os artistas que gostamos comecem a ficar mais mainstream, de ficarmos mais longe num concerto porque determinada banda teve mais fãs. Já não há sentimentos de pertença porque somos demais. e todos fazemos isto. e eu também. Não quero ter de ir a muitos concertos com mais de mil pessoas.

E não nos preocupamos porque se assim fosse os museus tinham outros horários. Porque assim ninguém podia dizer que pessoa "x" ou "y" está "estupidificada" e "alienada" ao sistema e não sabe reflectir sobre o que vê, isto do alto do nosso supremo intelecto.Porque está tudo confinado a uma cultura de massas, ao telelixo e ao futebol. No fundo, porque não podíamos manifestar a nossa superioridade sobre o resto da população. e é de reparar que o "nós" é evidentemente algo abstracto, pois eu gosto pouco de considerar alguém estupidificado. Isso não acredito que exista. Mas há gente que acredita. e isso é...hum estúpido.

Simplesmente a população não têm dinheiro nem paciência para a cultura. e isso só consegue ser mudado de uma maneira: levá-la às pessoas. Esperar que elas dêm de caras com o lobo antunes ou com o Manoel de Oliveira é idioticamente parvo. E é isto praí.

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