quinta-feira, 14 de abril de 2011

a festa das sobras.



Fala-se bastante, ao longo dos últimos anos, da crescente qualidade das séries americanas. diz-se muito que o próprio enredo das séries se torna muito mais interessante do que os filmes do sistema de hollywood. pois bem, com tanta publicidade às séries americanas, esquece-se o essencial: a maioria das pessoas vê sempre as mesmas e muitas delas nem são grande espingarda.

Convenhamos que two and a half men, big bang theory, ncis, csi, glee, dancing with the stars ou american idol, não são portentos de originalidade. já foram feitos quarenta mil vezes e é isso a que o povo assiste. é melhor que a nova sitcom da sic ou as novelas a retalho da tvi? claro que sim, é inegável que os americanos têm sorte na sua programação televisiva. mas também comem alguma merda.

conclusão: é sobretudo no cabo que arranjamos a programação mais original e diversificada. como cá aliás. a questão é que nos estados unidos o problema da audiência é altamente bicudo: um programa pode ser genial, mas se tiver poucos espectadores fode-se. aconteceu com arrested development. aconteceu com freaks and geeks e undeclared. com Studio 60 on the Sunset Strip (que ainda não vi). isto são tudo exemplos de canais abertos é certo, mas é quase tradicional que nos states existam pérolas que quase ninguém viu.

"party down" foi uma série original do canal starz, que tem uma produção própria de séries há algum tempo. no lugar de criadores temos rob thomas (de veronica mars) e o actor paul rudd por exemplo. e de que trata party down? de um conjunto de aspirantes ou antigos autores e argumentistas que trabalham numa empresa de gathering, cada um deles com as suas especificidades: o patrão que quer abrir um negócio de sopas e pão com a mania que é um tipo do caraças (um pequeno tom à the office, mas muito mais amigável), a tipa comediante que acredita ainda poder vingar, o tipo qque cagou de alto na carreira e anda meio perdido, a bacana mais velha que julga viver duma glória que nunca teve, o nerd argumentista (vivido por martin starr, o bill de freaks and geeks) e ainda o tipo que se acha alto galã e diz que sabe conquistar as babes.

todos eles estão meio na fossa a fazer algo que não querem. no entanto a sua interacção com as pessoas que encontram nas festas que ajudam a organizar são garante de gargalhadas e sobretudo de inteligência do texto. party down tem piadas que vão do mais suave ao mais nojento, situações constrangedoras, mas tudo com uma excelente criação de contexto.

o cast também é muito bem escolhido. tem jane lynch que foi fazer a porra do glee, adam scott agora em parks and recreation, o já referido martin starr, ou ainda ken marino que esteve em veronica mars. a verdade é que todo o elenco funciona na perfeição, é coeso e interage muito bem. temos o geek e o galã sempre à porrada, o tipo que já cagou na carreira e a comediante numa tensão sexual constante, a tipa mais velha a fazer castelos no ar, e o chefe a achar-se melhor que eles todos. e ainda existem participações especiais de jk simmons (de juno) ou de ken jeong de community e the hangover.

ora com uma história sólida e cómica e um bom cast, o que falhou? ora pois claro: as audiências. "party down" é uma espécie de freaks and geeks 10 anos depois. uma série sobre pessoas que ninguém quer saber a tentar fazer algo pela vida e ao mesmo tempo confinados a um espaço que detestam. como o povo de freaks and geeks tivesse crescido e agora trabalhasse todo na área doo gathering. o espírito é esse. é uma pena que ninguém tenha ligado pevas a uma série tão boa como party down. e com os seus actores mais ou menos orientados de trabalho, resta-nos esperar que muita gente se decida a adquirir a série vá-se lá saber por que meio. como eu fiz. e valeu bem a pena.

ainda não acabei de ver a série toda, mas até agora vão 9 bacanas comediantes com ar fofinho em 10.