domingo, 30 de maio de 2010

rock in rio ou como arranjar um sofá à borla.




Há qualquer coisa de estranho quando um gajo vê o cartaz de um festival e se apercebe que a única banda que o faria pagar bilhete é portuga e de setúbal (isto sem desprimor nenhum para os mais de mil que são das minhas bandas nacionais favoritas). e daí talvez não quando estamos a falar do rock in rio, a verdadeira feira ambulante com concertos no meio.

Porque me parece ser essa a definição mais correcta. Eu, que nunca lá meti a pata (estive quase, quase para ir na primeira edição no dia de metallica) posso mandar o bitaite completamente à vontade. Mas quando um gajo vai ler crónicas do concerto de muse, ou do mayer, ou dos trovante e topa que existem filas para arranjar sofás insufláveis grátis(!) ou maquilhagem especial à borla( outro !), parece-lhe que o conceito de festival musical está ,mais do que extravasado, subvertido num conceito de centro comercial gigante com umas bandocas a animar o povo.

Montanhas russas e free falls e essas merdas, já eu tinha topado que existiam quando muito espantado vejo uma montanha russa no sudoeste do ano passado, patrocinada pelos totolotos e totobolas da vida. Já acho isso ridíiculo que chegue, mas tudo bem que o sudoeste agora anda vocacionado para uma espécie de férias de uma semana com uns concertos pelo meio - também me parece ser um conceito meio parvo, mas como teve lá faith no more caguei. Agora o rir consegue levar as coisas a outra dimensão: deixa que os portugas se fascinem por uma marca, que cedam à brilhante jogada de marketing e digam com orgulho que lá meteram a pata. Mesmo que não façam a puta de ideia quem lá foi tocar - e isso atingirá eventual expoente na tenda vip, por aquilo que vamos vendo e lendo nas opiniões dos bué famosos da nossa praça.

No fundo, rock in rio, idas a cancun, porto galinhas ou algarve para os pobres, carro novo, ida a um restaurante finório, são pedras do mesmo dominó e servem como objectivo de escarrapachar ao vizinho que se meteu lá a pata - e o rock in rio faz questão de enfatizar isso com a já referida t-shirt. è uma questão que se prende desde os míticos tempos dos descobrimentos em que as peixeiras tinham uma escrava porque marcava a pausa para as vizinhas, ou o povo mais pobre andava com vestes todas da moda, para depois comerem pão que sabia a areia. A questão aqui é: então e a música?


E aqui respondo eu: o rock in rio é um festival para quem não gosta de música. Peguemos nas pessoas do primeiro dia que eram REALMENTE conhecedoras das discografias de quem ia tocar. Decerto que existiam algumas mas...contar-se-iam mais que pelos dedos? Duvido. A shakira terá uma base de fãs sólida? A ivete sangalo? Honestamente não acredito. As pessoas foram porque conhecem os mega-hits da rádio, e o abananço da colombiana e a poeira da brasileira, e meia dúzia foram lá para ver o mayer e pronto. O mesmo no segundo dia. e em certa medida o mesmo no dia de muse - acredito eu que se muse não fosse no rock in rio mas noutro festival qualquer, eles não teriam tanta gente a vê-los. Parecendo que não um dos dias com fãs mais indefectíveis terá sido mesmo com o jailbait da miley cyrus. E claro neste último dia onde sobretudo motorhead e megadeth têem fãs solidamente espalhados pelo país (rammstein são cada vez mais banda da moda e soulfly é sobretudo por terem o cavalera - e ninguém sente a falta de uma banda tuga como ramp que até vai ao palco secundário ou moonspell no palco mundo?)

Mas isto pouco interessa: o mais importante é sair de lá com as guitarras e sofás insufláveis, com unhas pintadas, fotos com duplos de povo musicalmente conhecido, entre bugigangas afins que saem que nem pãezinhos quentes por serem à borla. Fazendo com que as pessoas se esqueçam dos 80 aéreos que gastaram para arranjar um sofá que ficará lindamente na mesa da sala, junto à moldura das férias em porto galinhas e da foto com o bmw novinho em folha, que residem naquele T0 da ameixoeira. È isto que o agressivo marketing do rock in rio consegue: vende sonhos e ilusões a quem os consome diariamente. Com o que isso tem de bom e mau.