segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

a bela e o paparazzo ou como é possível ser engraçado sem mandar bufas



Estou a escrever estas simples linhas por duas razões específicas: primeiro porque o nuno markl anda a publicitar à grande os blogs que metam críticas sobre o filme, e aqui o estaminé bem que precisava de um puxão porque é mais que meio underground. depois, e o mais importante, porque este filme é um bom exemplo daquilo para que o cinema português pode e deve caminhar.

O nosso problema é relativamente simples: não temos um meio termo. Em portugal existe um cinema de classe mais europeia, mais arty representado por nomes como pedro costa, manoel de oliveira, joão césar monteiro entre outros. Esta classe existe em qualquer cinematografia do globo e é evidentemente bem-vinda. Mas obviamente que eu não espero que a maioria dos portugueses esteja para ver 4 horas de planos fixos com povo dos bairros à pobre como faz o pedro costa - eu não estou por exemplo.

Depois temos o dito cinema comercial. Que é basicamente uma merda. Filmes como o second life, o crime do padre amaro, a bomba ou o filme da treta são absolutamente horripilantes, dignos de um vómito prolongado. O filme da treta então é uma pena porque tem actores e argumentistas válidos que fizeram uma bosta de cão ali pró canto, adoptando apenas e só os tiques costumeiros daqueles personagens. O problema é que em portugal acha-se que piadas rasteiras, gajas nuas e uns tiros não sei onde chegam para fazer dinheiro.

No fundo tenta-se copiar aquilo que os americanos fazem mas com muito menos meios, e o resultado é um: póia. Não me interpretem mal, eu por vezes curto ver piadas rasteiras, gosto muito de gajas nuas e tou na boa com tiros, mas parece que só isso chega. A história cague-se nisso que o público não precisa de mais. Por exemplo se no crime do padre amaro a soraia chaves não aparecesse nua alguém ia ver o filme? talvez algumas babes. mas enfim.

O que nós precisamos é daquele tipo de filme que na américa existe bastante: filmes que soem despretensiosos, simples, bem feitos e com uma boa história. Este felizmente tem isso tudo. A bela e o paparazzo é mais um filme dos poucos realizadores portugueses que compreende esta necessidade no nosso cinema, e não se preocupa em poder levar açoites da classe onde está inserido.

O filme tem uma premissa simples: um tipo é fotógrafo de celebridades e apaixona-se por uma actriz de novelas que está mais que farta da sua intromissão na vida privada. Uma espécie de oposites attract à portuguesa e que obviamente vai desenvolvendo até chegar ao ponto importante que é aquela parte em que ah e tal ela descobre e fica fodida e beca beca, para depois tudo acabar em fogo de artifício. Este é obviamente um daqueles filmes em que mal sabemos qual é a premissa adivinhamos logo o final, mas diga-se que na maioria dos bons filmes é isso que acontece.

Obviamente que há mais que isto: o fotógrafo partilha a casa com dois amigos, um que trabalha num restaurante de sushi e outro que basicamente passa o dia a dormir no sofá a ver o pátio das cantigas, come pesto às 6 da manhã e tem uma ideia brilhante em declarar a independência do prédio onde eles moram, num tom declaradamente bairrista e sem medo de homenagear os clássicos cómicos portugueses tão maltratados que são - e que eu continuo a achar brilhantes(tenho pena que não tenham mostrado a cena da parede que dá vinho mas pronto).


Existem ainda outros caracteres interessantes seja o director da estação, o realizador larilas ou a excelente interpretação de maria joão luis como directora de revista do social. O filme consegue abordar um problema sério (a questão da privacidade e de como por vezes o feitiço se vira contra o feiticeiro) mas sem o intelectualizar muito, o que funcionou. Por isso é ver o protagonista joão inicialmente a utilizar a imagem de uma celebridade para ganhar uns trocos, e depois vê-se lixado com tudo quando alguém lhe liga para casa para ele falar num programa de tv.

Existem também uma data de planos interessantes sobre Lisboa, num claro interesse na cidade nas suas vistas e detalhes, embora por vezes soe meio forçada essa necessidade sobretudo com o casal protagonista a tirar fotos em tudo quanto é sítio à turista: não me parece que o melhor para uma actriz de novela em férias e a necessitar de fugir da rotina , seja andar no meio da cidade com o namorado novo mas pronto. Acho que a melhor homenagem à cidade que António Pedro Vasconcelos faz é naquele clima bairrista das assembleias do prédio,dos bailaricos, da vida comum de um qualquer bairro lisboeta com vida própria.

Quanto ao resto é naquela: existem defeitos até técnicos - alguns planos que ficam absurdamente desfocados e dói por vezes a vista em vê-los- mas é um filme simples, honesto, que cumpre aquilo que se propõe: dar aos espectadores uma comédia meio romântica com que eles se identifiquem facilmente. E infelizmente conto pelos dedos os filmes portugueses que consigam fazer isso depois do preto e branco.

dou sete choraias chaves nuas no crime do padre amaro em dez.

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