domingo, 21 de fevereiro de 2010
kevin smith ou o tipo que diz que meio amochou
Kevin Smith foi, numa determinada altura da sua carreira, um daqueles nomes mais que promissores de hollywood, uma das grandes esperanças, tipo os chavalos da bola promissores para darem em craques. não terá sido um "cristiano ronaldo em potência" como foram sei lá richard kelly ou meesmo m.night shyammalan (e se o primeiro ainda está num limbo, shyamalan está cada vez mais na fossa para muito boa gente) mas foi sem dúvida um tipo de quem ninguém tirava os olhos de cima. O excelente clerks, um pequeno filme independente mais low-budget todo filmado a preto e branco e com actores meio amadores, foi a força motriz para isso acontecer.
E a verdade é que depois do excelente clerks, mallrats e chasing amy souberam seguir esse padrão.
Clerks, o primeiro, é um filme recheado de lata sobre dois tipos que trabalham numa loja de conveniência. tão simples quanto isso. tem piadas parvas e porcas, tem um feeling indie supremo sobre dois losers a bulir numa loja. somente isto. mas consegue que tanto o responsável dante e o estouvado randal cativem. Ou jay e silent bob que aqui nasceram. E os problemas existenciais daquelas duas personagem conseguem-se transformar em assuntos de estado essenciais para um mundo melhor - pelo menos na nossa cabeça. E isto, lá está em simples hora e meia com meia dúzia de tostões e actores amadores.
Mallrats foi mais ou menos isto mas com mais guita. Existem dois tipos que não fazem nenhum (Ts e Brodie) mas neste caso andam por um centro comercial a passear, centro comercial esse que, pois claro, é também o poiso de jay e silent bob. Mais umas quantas piadas parvas, referências geek e temos um filme que, não sendo tão interessante como clerks foi, consegue ser uma boa adição à filmografia do homem. Mallrats continuua a ser uma singela homenagem à geração meio perdida de smith e aos seus anti-heróis.
Chasimg amy é, no meu mais que douto entender, O filme de Kevin Smith. é uma comédia romântica com um porradão de referências a comics por exemplo (tal como mallrats que até teve uma pequena participação de stan lee himself) mas tem uma essência imbatível por ser dura e até cruel nos seus propósitos. è a história de um gajo que se apaixona por uma...fufa. Basicamente isto.E as suas inseguranças e desvarios, medos etc, são entraves para uma vida mais simpática. Smith mostra aqui a sua sensibilidade e tal sim senhor, mas também um par de tomates do caraças por fazer um filme que emociona um gajo sem lamechices e mariquices. E o discurso de silent bob é das analogias mais básicas de serem feitas, mas de tão certeira que é merece louvores. E chasing amy é isso mesmo: um filme que não revoluciona mundo nenhum mas que subverte um género de tal maneira que o consegue compreender em todo o seu esplendor. è genial diria.
A partir daqui a porca torceu um bocado o rabo. Não que dogma seja mau porque não é, mas nota-se que a "lata" do costume está muito mais entregue ao tema em si (dois anjos que querem ir para o paraíso mas não conseguem) do que ao argumento. E pareceu-me que smith ficou tão contente de ter conseguido meter a sua premissa nas bocas do mundo, que depois ficou a meio caminho. Mas ainda assim é bom. Tal como jay and silent bob o é embora nesse caso ele deixou que as personagens falassem por si. Ou seja o que funcionou foi sem dúvida as piadas que smith por lá meteu, e não a essência da história ou as suas personagens. Mas o filme é porreiro e não houve espiga. De qualquer forma, e voltando a dogma, preciso de o rever que já não o vejo há que tempos.
E agora sim: a porca torce o rabo. Com as belezas da paternidade, Smith tornou-se um menino. è verdade que tenta atenuar isso um bocado: mete por lá umas piadas escatológicas, a miúda não é do tipo "fofinha" tem em george carlin um avô meio nonsense e com graça, e a personagem de ben affleck consegue ter a nossa solidariedade. Mas é lamechas. Bastante mesmo. E muitas das vezes politicamente correcto. Aquilo que a personagem de Affleck quer é o mesmo que Dante queria, com a difenreça que o primeiro teve uma tragédia absoluta na sua vida e o segundo pelo menos que saibamos não. È um filme de kevin smith? A espaços parece sim, mas depois há por lá umas inundações da lágrima semifácil e o caso fica mais bicudo. Não é uma mancha horrível na nossa camisa preferida, mas é uma daquelas que só com umas 3 ou 4 lavagens lá vai.
Smith tentou pedir uma espécie de "desculpa" em "Clerks 2" fazendo voltar as suas personagens primeiras. Clerks 2 é outra vez Dante e Randall a trabalhar agora num sítio chamado "mooby's", porque o quick stop literalmente ardeu, e Jay e Silent Bob em negociatas nas traseiras. Obviamente que a questão aqui é: as desculpas foram aceites?
No que a mim toca não tenho a mínima dúvida que sim. Até digo mais: clerks 2 é um dos meus filmes favoritos de smith. Volta ao politicamente incorrecto às piadas porcas mas com sentido, chega mesmo a ser nojento com a tal cena do jumento que, embora previsível a certa altura, funciona na sua plenitude. E nem sei se isso é bom ou mau... E ainda consegue que essa cena seja fundamental na acção do filme, pois é aí que as grandes revelações do filme são colocadas em cheque.
Mas o melhor mesmo de clerks 2 é que o filme sabe dignificar as suas personagens, tem carinho por elas. Sabe que não pode significar o mesmo que o primeiro filme significou, mas arranja um sentido lógico para Dante e Randall, uma espécie de merecida redenção quue não é mais que lhes dar um sentido para a vida. Sentido esse que é basicamente aquilo que gostávamos que smith lhes desse. Sem tirar nem pôr.
E não sendo melhor que clerks, o primeiro, clerks 2 é de facto um filme feito por um fã daquelas pessoas. E daquela geração. Kevin smith, ele mesmo. è verdade que anda por lá uma lamechice manhosa que apodera meia dúzia de minutos o filme mas é aquele tipo de "amochar" que ainda se aceita. Afinal o tipo foi pai, e clerks 2 foi uma espécie de homenagem feita a Jason Mewes (Jay) por ter saído dessa cena chamada droga.
Zack and miri make a porno foi o último filme do homem. Tem cerca de 2 anos e foi construído tendo por base uma porreiraça premissa: dois amigos dividem uma casa, e como são altos falhados sem grande guita, decidem produzir um filme porno para arranjar uns trocos. A premissa diga-se é óptima. Seth Rogen é um actor que eu curto. Elizabeth Banks é fofinha, e volta aquelas piadas subersivas porreiraças que o povo curte ver num filme do homem.
Mas pois claro, o filme torna-se uma comédia romântica. consegue é não ser tão declaradamente lamechas como Jersey girl e Clerks 2(nos momentos em que este puxa para a lamechice). Mas ainda assim o seu desenrolar não é tão satisfatório quanto podia ter sido, e como os primeiros praí 20 minutos faziam parecer. è verdade que a páginas tantas emenda a mão e faz-nos sentir tranquilos em relação ao seu final, mas não é um filme brilhante.
De qualquer forma é bom, e conseguiu unir mais os fãs de smith que não curtiram nem jersey girl nem clerks 2. Eu diria que este foi o filme que me deixou me sossegou em definitivo: afinal o homem ainda sabe o que está a fazer. Quanto aos momentos mais para "molha cueca" pode ser que ele os consiga contextualizar num filme próximo. embora duvide que seja com "cop out" o seu próximo filme com bruce willis e tracy morgan, cena sobre dois bófias à procura de um tipo marado dos cornos e com pancada por cromos de basebol. Acho que é isto.
Pelo trailer, que aqui deixo, soa-me a cena bastante encomendada, mas há coisas encomendadas que funcionam. vamos ver. Embora nem por isso tenha gostado desta apresentação...
e para acabar deixem cá ver se faço um top meu de filmes do homem. Ora bem:
1 - chasing amy
2 - clerks
3 - clerks 2
4 - mallrats
5 - dogma
6 - jay and silent bob strike back
7 - zack and miri make a porno
8 - jersey girl
Atenção: é verdade que zack and miri make a porno está em sétimo, mas de 0 a 10 dava-lhe um 7. tal como ao filme do jay and silent bob e provavelmente a dogma. ia de 8 para o mallrats e o segundo clerks e a 9 para o clerks el primero e chasing amy.
e praí um 5 para jersey girl.
e é isto fiquem todos mais que buéda bem e coiso.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
os putos no meio
È absolutamente verdade que o mercado das séries tem vindo a florescer a olhos vistos. Muitas delas são inclusive mais relevantes que um porradão de filmes que surgem, possuindo uma relevância artística bastante particular. Obviamente que esse fenómeno não é de agora, mas a quantidade de formatos originais que surgem em formato televisivo são suficientes para que consiga sustentar esta minha afirmação.
"The inbetweeners" tem duas temporadas, a primeira que começou no dia em que a segunda série de "skins" terminou. Acabou com putos em nova iorque ao som de mgmt e começou um genérico animado sobre um puto meio loser que vai para uma escola nova. A premissa de "the inbetweeners" é basicamente isto. Um puto average joe, irrelevante socialmente numa escola com um grupo de amigos relativamente idênticos e as suas vivências numa escola. Obviamente que há um porradão de peripécias algumas mais parvas que outras, embora todas elas acabem por ter graça.
Não me rio às gargalhadas como muitas vezes me rio a ver the big bang theory por exemplo, típica sitcom americana que tem um porradão de punchlines propositadas para arrancar risos. The inbetweeners não sendo uma comédia absolutamente comum, tem uma lata do caraças em meter piadas e que ainda por cima costuma funcionar. E joga com características específicas dos seus personagens, seja pela quase excentricidade, paleio, insegurança ou simplesmente imaginação. a série foi feita para que nos consigamos identificar com algum daqueles caracteres e para nos realmente importarmos com eles, e essa consistência emocional é complicada de alcançar. E the inbetweeners consegue-o logo no primeiro episódio.
Cada season tem somente 6 episódios de 20 minutos e pouco, como é bastante comum em inglaterra. No entanto compreende-se que se as temporadas alastrassem para 15 ou 20 episódios, muitos deles seriam puro enchimento de chouriços. Assim os criadores têm tempo para aprimorar a vida dos 4 tipos que não são propriamente populares mas também não chegam a nerds. Estão lá pelo meio portanto.
È das séries de comédia mais inventiva que me lembro de ver nos últimos tempos. Uma espécie de "superbad" versão série mas com bastante mais estilo e atitude. Mais que recomendável porra.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
a bela e o paparazzo ou como é possível ser engraçado sem mandar bufas
Estou a escrever estas simples linhas por duas razões específicas: primeiro porque o nuno markl anda a publicitar à grande os blogs que metam críticas sobre o filme, e aqui o estaminé bem que precisava de um puxão porque é mais que meio underground. depois, e o mais importante, porque este filme é um bom exemplo daquilo para que o cinema português pode e deve caminhar.
O nosso problema é relativamente simples: não temos um meio termo. Em portugal existe um cinema de classe mais europeia, mais arty representado por nomes como pedro costa, manoel de oliveira, joão césar monteiro entre outros. Esta classe existe em qualquer cinematografia do globo e é evidentemente bem-vinda. Mas obviamente que eu não espero que a maioria dos portugueses esteja para ver 4 horas de planos fixos com povo dos bairros à pobre como faz o pedro costa - eu não estou por exemplo.
Depois temos o dito cinema comercial. Que é basicamente uma merda. Filmes como o second life, o crime do padre amaro, a bomba ou o filme da treta são absolutamente horripilantes, dignos de um vómito prolongado. O filme da treta então é uma pena porque tem actores e argumentistas válidos que fizeram uma bosta de cão ali pró canto, adoptando apenas e só os tiques costumeiros daqueles personagens. O problema é que em portugal acha-se que piadas rasteiras, gajas nuas e uns tiros não sei onde chegam para fazer dinheiro.
No fundo tenta-se copiar aquilo que os americanos fazem mas com muito menos meios, e o resultado é um: póia. Não me interpretem mal, eu por vezes curto ver piadas rasteiras, gosto muito de gajas nuas e tou na boa com tiros, mas parece que só isso chega. A história cague-se nisso que o público não precisa de mais. Por exemplo se no crime do padre amaro a soraia chaves não aparecesse nua alguém ia ver o filme? talvez algumas babes. mas enfim.
O que nós precisamos é daquele tipo de filme que na américa existe bastante: filmes que soem despretensiosos, simples, bem feitos e com uma boa história. Este felizmente tem isso tudo. A bela e o paparazzo é mais um filme dos poucos realizadores portugueses que compreende esta necessidade no nosso cinema, e não se preocupa em poder levar açoites da classe onde está inserido.
O filme tem uma premissa simples: um tipo é fotógrafo de celebridades e apaixona-se por uma actriz de novelas que está mais que farta da sua intromissão na vida privada. Uma espécie de oposites attract à portuguesa e que obviamente vai desenvolvendo até chegar ao ponto importante que é aquela parte em que ah e tal ela descobre e fica fodida e beca beca, para depois tudo acabar em fogo de artifício. Este é obviamente um daqueles filmes em que mal sabemos qual é a premissa adivinhamos logo o final, mas diga-se que na maioria dos bons filmes é isso que acontece.
Obviamente que há mais que isto: o fotógrafo partilha a casa com dois amigos, um que trabalha num restaurante de sushi e outro que basicamente passa o dia a dormir no sofá a ver o pátio das cantigas, come pesto às 6 da manhã e tem uma ideia brilhante em declarar a independência do prédio onde eles moram, num tom declaradamente bairrista e sem medo de homenagear os clássicos cómicos portugueses tão maltratados que são - e que eu continuo a achar brilhantes(tenho pena que não tenham mostrado a cena da parede que dá vinho mas pronto).
Existem ainda outros caracteres interessantes seja o director da estação, o realizador larilas ou a excelente interpretação de maria joão luis como directora de revista do social. O filme consegue abordar um problema sério (a questão da privacidade e de como por vezes o feitiço se vira contra o feiticeiro) mas sem o intelectualizar muito, o que funcionou. Por isso é ver o protagonista joão inicialmente a utilizar a imagem de uma celebridade para ganhar uns trocos, e depois vê-se lixado com tudo quando alguém lhe liga para casa para ele falar num programa de tv.
Existem também uma data de planos interessantes sobre Lisboa, num claro interesse na cidade nas suas vistas e detalhes, embora por vezes soe meio forçada essa necessidade sobretudo com o casal protagonista a tirar fotos em tudo quanto é sítio à turista: não me parece que o melhor para uma actriz de novela em férias e a necessitar de fugir da rotina , seja andar no meio da cidade com o namorado novo mas pronto. Acho que a melhor homenagem à cidade que António Pedro Vasconcelos faz é naquele clima bairrista das assembleias do prédio,dos bailaricos, da vida comum de um qualquer bairro lisboeta com vida própria.
Quanto ao resto é naquela: existem defeitos até técnicos - alguns planos que ficam absurdamente desfocados e dói por vezes a vista em vê-los- mas é um filme simples, honesto, que cumpre aquilo que se propõe: dar aos espectadores uma comédia meio romântica com que eles se identifiquem facilmente. E infelizmente conto pelos dedos os filmes portugueses que consigam fazer isso depois do preto e branco.
dou sete choraias chaves nuas no crime do padre amaro em dez.
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